E naquela manhã de sábado, Janaina fora a casa de Mandel, e lá tiveram mais um encontro. Janaina não se conflitava com Esther, mesmo que ela não soubesse desta condição de amante. Naquele dia, porém, a sua intuição batera-lhe a porta entregando-lhe um forte sinal amarelo. A revelação desta intuição naquele ambiente feromônico abriu a caixa de surpresas que emergiu da alma de Mandel: a sua novíssima e inevitável paixão por Claraluz. Janaina, após o alerta ensurdecedor da sua intuição e da consequente conclusão de Mandel, sentira sua relação mortalmente golpeada.
A intuição revelada das profundezas psíquicas de Janaina realçou uma das grandes forças presentes na alma feminina. A intuição. A percepção do perigo que ronda sua oca, característica prensada e fincada antropologicamente desde o momento humano que estabeleceu a agricultura como forma de produção econômica, tornando o ser o humano sedentário, e sedimentando históricos e distintos papéis sociais da mulher e do homem na organização social, que se reproduziram no fio da história, até quase os dias de hoje.
Até quase, porque uma dos aspectos da revolução humana em curso é o desaparecimento dos papéis clássicos do homem e da mulher nos diversos arranjos sociais, desde a família até grandes sociedades multinacionais. Mas os aspectos mais profundos que marcam a alma feminina e a alma masculina permanecem intactos. A intuição é um peixe-correio, que traz mensagens criptografadas do fundo deste mar da psique humana até a sua tona, donde são resgatadas e recolhidas pela consciência, a pele da alma feminina.
E a mensagem resgatada pela consciência de Janaina era implacável: a sua relação estava mortalmente golpeada. O sinal de alerta, sinal de vida da sua alma feminina acendeu ofuscando-a. Como diria minha querida Alice Okawara, inspiradíssima artista plástica, ilustradora de Claraluz e o Poeta, durante um encontro que prazerosamente tivemos há algumas horas (geograficamente, melhor explicando, porque virtualmente encontramo-nos todos os dias): o karma é a nossa história individual, uma história que já nos vem escrita. A história que apareceu diante dos olhos de Janaina não era a história dos seus sonhos. Era a história que, karmaticamente, estava reservada a ela.
Mauro Brandão
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